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3 min readDec 22, 2021

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Funções exponenciais,embriologia, bancos gananciosos, mais valia e trabalho assalariado

Funções exponenciais,embriologia, bancos gananciosos, mais valia e trabalho assalariado Funções exponenciais, aquelas em que, por exemplo, um número é multiplicado por si mesmo várias vezes, estão entre um dos fenômenos mais difíceis de se abstrair pela mente humana. Para citar um exemplo, com uma taxa de juros mensal de 20% ao mês, se fizéssemos um empréstimo de 100 reais, o pagamento do seu valor em 5 anos (ou 60 meses) , resulta numa dívida fabulosa de 5,6 milhões.É como se uma gota se transformasse num lago.Mas e se a taxa fosse aumentada apenas minimamente, para 21%? Bem, neste caso, essa diferença de “1%” entre os dois produzirá uma dívida de 9,2 milhões, gerando uma diferença entre os dois de mais de quase 4 milhões. Um outro modo de enxergar tal processo é o conceito de iteração: aquele onde um mesmo objeto é sujeito a uma série de operações sucessivas, que o transformam. Exemplo? Pode tanto ser usado para avaliar o crescimento de uma planta como o desenvolvimento do feto humano. De fato, pela divisão celular por mitose e meiose, é “literalmente” uma função exponencial, onde uma célula se divide sucessivamente, em 4, 8, 16, 32, sempre dobrando. O exemplo acima, dos juros dos bancos, numa mente curiosa, pode trazer uma seguinte questão. Não seria a atividade no trabalho, por exemplo, de um operário que produz peças, ela mesma uma função exponencial e um processo iterativo? Ou seja, é produzida uma peça, que por sua vez é transformada em outra, dando origem a outras, e então recombinada, sucessivamente. Em outras palavras, o trabalho “rende” exponencialmente, gerando estruturas cada vez mais complexas. Contudo, como já há muito tempo observou Marx,o controle dessa atividade não fica nas mãos dos trabalhadores, e sim na dos capitalistas que o contratam. E essa habilidade é “vendida” pelo trabalhador em troca de seu salário, que constitui apenas uma ínfima parcela de toda a atividade que produziu, gerando a chamada mais valia. E, nesse modo de produção, são as empresas, peças, meios de produção, que parecem adquirir vida própria e terem “produzido” todas as coisas, embora estas sejam produtos da atividade humana. É o que Marx deu o nome de “fetichismo da mercadoria”. Dessa forma, o que superficialmente parece revelar “apenas” a ação de bancos ganaciosos,cobrando taxas abusivas, se olhado mais atentamente, revela um pouco mais do modo como a própria sociedade é organizada.Essa “multiplicação” e a “taxa de juros”, é assim simplesmente uma espécie de “medição”, imprecisa, da própria expectativa de “crescimento”/desenvolvimento, dos produtos gerados pelo trabalho humano.Um banco, simplesmente, trata de modo “igual” o capital que empresta para empresas ou para pessoas e, assim, “espera” das últimas que consigam os mesmos “rendimentos” milagrosos das empresas.Como as primeira estão sendo pilhadas pelas últimas, obviamente a conta não fecha.

Assim, não é que os bancos “queiram” muito e apenas “explorem” os trabalhadores: é que, no capitalismo, como a atividade humana é sequestrada e intermediada pelo capital/dinheiro, esta parece ser então a força que “cria” tudo o que existe. Por esse motivo, toda crítica ao “sistema financeiro” mal, em oposição a um suposto capitalismo industrial “do bem”, é vazia, quando não perigosa(vide o caso do nazismo). Ela omite uma incoerência muito mais fundamental na própria raiz do capitalismo.

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