Imposto é roubo? Sonegar é legítima defesa?

Questione Tudo
2 min readApr 30, 2022

Fala-se, de maneira apaixonada e furiosa, nos círculos “anarco-capitalistas” e cia (e a quase unanimidade de “liberais”), da “coerção estatal”, do “crime” que seria o Estado ter poder sobre a propriedade alheia (ou mesmo existir), que “imposto é roubo”, e etc, etc, etc.

O curiosíssimo de tais frases, entretanto, é que elas pressupom um mundo atemporal, onde as coisas sempre foram e serão como são, e em que se ignora que a própria distribuição das riquezas na sociedade nasceu, de um modo ou outro, de regras, restrições, vindas… do Estado.

Assim, depois de uma “revolução” ancap que abolisse todos os Estados da terra ainda surgeria o problema de, por exemplo, um traficante de drogas poderia obervar, simplesmente, que tem direito a uma grande fatia de riquezas que outros possuem, que poderia “ter sido tão rico quanto o Elon Musk ou Bill Gates”, se não fosse a “perseguição estatal” contra seu “negócio” (ou, talvez, trabalhadores reclamando do valor não pago de seu trabalho, a mais-valia). E é de se imaginar que, nessa nova sociedade, “títulos de propriedade” não tenham exatamente “valor legal”…

Ora, diferente dos delírios ancaps, há uma coisa chamada Tempo e outra chamada História e o que vemos é que, sim, de fato, seja na Inglaterra, na China, nos Estados Unidos ou qualquer país (salvo regiões com tribos e bandos isolados) houve sim interferência do Estado em ALGUM período que foi decisivo para o modo como a propriedade é organizada. No próprio caso do Brasil, a distribuição das terras surgiu com base em CONCESSÕES do Rei de… Portugal! Longe, assim, do “fim” da interferêcia do Estado, o que tais ideias parecem propor apenas é que as interferências prévias, de Estados ANTIGOS, é que deveriam ter maior peso, ficando em aberto a questão: o que tornaria estes mais “legítimos” que os Estados contemporâneos? E o que faria suas decisões, menos “coercitivas”?

--

--