Greg Duvivier, o possível golpe de Bolsonaro e defender a democracia

Questione Tudo
2 min readMay 24, 2022

Não tenho, ultimamente, acompanhado muito a política, pelo simples fato do quão pobre ela se mostra como uma ferramenta para se entender (que dirá mudar) a realidade capitalista, vivida pela humanidade todos os dias.

Como um exercício de lógica, entretanto, não custa parar e se analisar um pouco sobre as recentes declarações do Duvivier, a respeito de que “o Ciro não deve se candidatar” já que isso “facilitaria a vitória de Bolsonaro no segundo turno”.

O erro lógico desse argumento está num fato simples: em nome da defesa da democracia, está se propondo que Ciro não se candidate, mas Ciro não poder se candidatar é, por si mesmo, um ataque à democracia. Basicamente, ela implica dizer que: a) a pluralidade de ideias, ideologias e projetos de governo não têm peso b) que é “aceitável” que um dos candidatos (Bolsonaro) tenha o poder, indiretamente, de remover outro (Ciro), pela simples “insinuação” de um golpe e c)por fim, que é mais fácil para o Duvivier aceitar a legitimidade, para concorrer, de um candidato golpista, claramente fascista, do que outro que tem respeitado tudo que se espera de procedimentos democráticos.

Ao fazê-lo, portanto, Duvivier, de uma forma ou outra, se conforma a aceitar a “realidade”, ou seja, ficar do lado dos fortes, mesmo que sob o risco de sacrificar e pisar nos fracos, numa espécie de “os fins justificam os meios”. Mas tal perspectiva é, ela mesma, a negação do que se propõe a esquerda, que é a batalha por tornar, o utópico, um pouco mais próximo do possível.

Defender a democracia, e o avanço de causas sociais progressistas, algo que Duvivier pretende, é o exato averso disso:preferindo-se, ou não, Lula a Ciro (pouco importa aqui o que se pense do candidato), não se pode sob hipótese alguma tirar um candidato se cedendo à chantagem de um político fascista dar um golpe.Mesmo porque, se os fins justificassem os meios, então não caberia sequer condenar Bolsonaro pela tentativa de golpe, mas apenas o que ele faria com isso depois.

É lamentável, assim, ver a esquerda brasileira se enredar pelo mesmo caminho dos Estados Unidos, onde os únicos partidos “aceitáveis” são os Democratas e Republicanos, e, os menores, continuamente atacados porque seriam um “acessório” para o lado oposto: tão importante quanto se “vencer” o outro lado, é a garantia de que o “nosso” lado tenha algo de fato que preste a se oferecer, e, para isso, a diversidade de candidatos, e candidatos que se mostrem o mais críticos e aversos possíveis, mostrando outros caminhos, só tem a contribuir.

Dessa forma, o mais coerente, a exemplo do que o próprio Ciro fez, ao condenar a prisão de Lula e as arbitrariedades de Moro, é defender, antes, a democracia, e depois um candidato em particular. Isso sim é que demonstrará uma postura, adequadamente, “antifascista”.

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