Números binários e o taoísmo

Questione Tudo
3 min readApr 28, 2022

Números binários e o taoísmo

Uma lição importante, ao se estudar programação e os fundamentos da computação, diz respeito aos números binários. Isolado, por si só, um bit, seja ele 0 ou 1, não diz absolutamente nada. Ele não “possui” um “significado” ou “sentido”. É algo, em suma, “vazio”. Basta, entretanto, pensá-lo em termos de um “contexto”, ou seja, outra sequência de códigos e as relações estabelecidades entre eles, e esse mesmo “bit” “insignificante” passa a significar tudo. Um exemplo? Considere a frase: “você gostaria de sair comigo?” A resposta pode ser um simples “sim” e “não” e, portanto, redutível a um bit! Assim, aquele mesmo “bit” sem significado, “inútil”, de antes passa a significar… tudo! E nem preciso falar para o caso da célebre questão shakespereana, “ser ou não ser”…!

Essa relação não se faz presente apenas aqui. Ela é a base do que dá um sentido a palavras, e estas, por sua vez, a frases, num modelo de complexidade crescente. Ou no caso do som: uma única nota é apenas o som de uma buzina. Combine-nas, em sequência, e nasce a música, uma das maiores dádivas da vida.

Mas se, sozinho, um bit não “diz” nada, tudo dependendo da estrutura que o decodifica, podemos nos perguntar se algo semelhante não se manifestaria na própria vida. Como? Que tudo o que vemos, sentimos, os objetos que nos cercam, a parte de suas propriedades, adquirem um “sentido” a partir de significados, simbólicos, estabelecidos em função da relação que possuem com outros objetos. E, a partir disso, o próprio modo como “compomos” um sentido para a vida… E significa dizer, como de fato a área da chamada terapia cognitiva comportamental, que podemos mudar o modo como “sentimos” o mundo, mudando o modo como o “vemos”. Ou seja, alterando-se a maneira de se “ler” eventos da nossa vida, que atribuímos significados

Indo mais além, até algo tão misterioso como a consciência humana, pode ser pensada como o entrelaçamento de informação, dessa vez através de neurônios. Outro exemplo: nos acostumamos, ao pensar em algo, e referindo-se com ele a uma palavra, digamos “sapo”, num objeto com propriedades definidades. Mas e se o termo, a palavra, passa a ser visto não como uma “definição” de algo com propriedades x, y e x, e sim como um “endereço”, para algo cujas características mudam continuamente? Por exemplo, quando se referem a mim, “Fulano”, sou a descrição imaginada de mim? Ou sou as mudanças continuam, através de experiências, que a todo momento me transformam?

Pensamos, por exemplo, no “sapo” como algo fixo, estático, algo que faz um barulho “aquoso”, que aparece quando chove, e põe a língua para fora para pegar moscas, porque nossa visão é limitada, e porque nossa vida é curta: vivéssemos milhares de anos, e talvez eles nos parecessem tão “variáveis” como a forma das nuvens no céu… já que, pela seleção natural, eles estão, o tempo todo, nascendo, morrendo e mudando.Ou, como disse Heráclito, “não podemos cruzar duas vezes no mesmo rio”.

E alguém então pode se perguntar, como algo que permanecerá, necessariamente, sempre sem resposta, e como pura diversão: seria o próprio universo um aglomerado de informações que pode, externamente a ele, ser “lido” como um símbolo junto a uma multiplicidade de outros? E haveria alguém lá fora “lendo-nos”? Pensemos no caso de fractais, em que estruturas se repetem, sem fim… como no exemplo da imagem…

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